História

FAMÍLIA BELLATO

 

 

Bellato era uma família proveniente de Mogliano Veneto, província de Treviso, norte da Itália, que ali vivia desde 1500.

Os sobrenomes ou apelidos surgiram na época medieval, devido à necessidade de diferençar as famílias uma das outras. Essa estrutura de tão válida persiste até nossos dias. Nossos sobrenomes são um legado de nossos antepassados e uma forma clara de nos distinguirmos de outros grupos familiares.

Bellato é um apelido (sobrenome) com diferentes origens concentradas em Veneto, Piemonte e Lazio, cuja origem é atribuída a um dos muitos nomes com a raiz Bell – de bellus, palavra latina com significado de belo. Assim, temos a raiz Bell mais o sufixo -ato,que transmite noção de situação, grau e distinção. 

Provavelmente, o mais antigo Bellato registrado na Paróquia de Santa Maria Assunta é Michiel, nascido em 1572 e falecido aos 28 anos, em 1600. Outro de que se tem notícia é Pedro Bellato, nascido no primeiro semestre do ano de 1600, que trabalhava como cocheiro para os nobres Spinelli, no Palácio Marocco, Via Marignana. Contemporânea a Pedro, habitava também em Marocco a família de Alvise Bellato.

Com o passar do tempo, os Bellatos firmaram presença na região, e no Censo Paroquial – "STATO DELLE ANIME" – de 1835, consta que, na casa número 174, dos Marignan, habitaram Ângelo Bellato (1798), sua mulher Maria Castellaro Bellato deta Roncon (1798) e os filhos Pasquale (1822), Luigia (1825), Lorenzo (1832) e Antonio (1833).[1] 

Ângelo Giuseppe Bellato nasceu no dia 26 de outubro de 1850, às 02h00, em Mogliano Veneto, província de Treviso, ao norte da Itália. Era filho de Pasquale Bellato e de Domenica Bonazza Bellato, casados em 14 de fevereiro de 1849. Foi batizado no dia 27 de outubro de 1850, na igreja da Paróquia de Santa Maria Assunta, por D. Botaccin, e teve como padrinho Giuseppe Renim, conforme registro número 87.

Viveu sua meninice ao lado dos familiares e, ainda jovem, aprendeu o ofício de pedreiro com seu pai Pasquale, a quem ajudava nos serviços da propriedade onde sua família morava, nos arredores de Mogliano Veneto.

Casou-se com Maria Chinellato di Angelo detta Vanin em nove de março de 1874. Desse casamento nasceram seis filhos: Attílio Domênico (11.09.1874), Pedro Ernesto (09.05.1876), Armindo (03.03.1878), Antonio (11.09.1880), Amália Caterina (08.06.1882) e Sílvio Eugênio (01.08.1885).

Aos 37 anos de idade, em 1887, ficou viúvo. Sua esposa, Maria Chinellato Bellato, faleceu com 33 anos de idade, depois de breve enfermidade, deixando Ângelo Giuseppe totalmente desolado e com seis filhos para cuidar.

Em 1891, o filho primogênito Attílio, aos 17 anos, não sabemos por que razão, talvez para fugir do serviço militar, que era muito severo na Itália, ou com o desejo de libertar-se do jugo paterno e ser dono de sua própria vida, embarcou no porto de Gênova com destino ao porto de Nova York, nos Estados Unidos. De lá seguiu para o porto de Vera Cruz, no México, e, finalmente, foi para a cidade do México, capital daquele país, onde por alguns anos trabalhou como empregado em uma padaria. Mais tarde resolveu estabelecer-se no ramo de restaurantes, e assim o fez.

Ainda por cinco anos Ângelo continuou a trabalhar para o Barão, nas adjacências de Mogliano, bairro Marocco, onde hoje se encontra o Parque Hotel Villa Marcello Giustinian, Via Marignana, 45/A. O nobre era por demais exigente e, em determinada ocasião, chamou Ângelo à sede da propriedade e o interpelou de forma rude pelo fato de que seu filho Pedro não lhe fizera reverência, quando ele, o Barão, passara de carruagem por sua propriedade. Revoltado com a prepotência do Barão, Ângelo, já com 42 anos de idade, decidiu que não mais trabalharia para ele.

Ângelo Giuseppe procurava ser um homem independente e seguia as ideias revolucionárias de Sílvio Pélico, literato italiano que, por seu profundo sentimento patriótico, foi preso em 1820, sob a acusação de pertencer à Carbonária(2). Julgado, foi sentenciado à morte, mas sua pena foi comutada para 15 anos de prisão em regime forçado, a serem cumpridos na Fortaleza de Špilberk, na Morávia, onde escreveu o livro "As minhas prisões", em 1832.

Ângelo Giuseppe aproveitou que o governo brasileiro estava incentivando a imigração de estrangeiros não só para substituir a mão de obra, prejudicada pela abolição da escravidão, como também para se beneficiar da cultura europeia e promover a ocupação de áreas de baixa densidade demográfica existentes no Brasil. A Itália vivia uma conturbada situação econômica e social. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, chegara ao país, que também enfrentava, nessa mesma época, um processo de unificação política. Como havia acontecido em outros países, os pequenos produtores e trabalhadores italianos foram extremamente prejudicados pela introdução das máquinas no processo produtivo. Isso sem falar no aumento de impostos sobre a terra e o consequente endividamento dos camponeses. Segundo a historiadora Zuleika Alvim, essas condições aliadas à melhoria nos transportes disponibilizaram no mercado mundial “verdadeira horda de camponeses sem terra e desocupados”. O que, ainda segundo a historiadora, era essencial para o próprio capitalismo europeu: eliminava um grande contingente populacional que pressionava os centros urbanos e, ao mesmo tempo, beneficiava a “pátria-mãe” com o dinheiro enviado do exterior pelos parentes expatriados. Ângelo conseguiu, via Consulado Brasileiro, as passagens fornecidas pela Sociedade Promotora da Imigração, órgão criado em 1886 pelo governo brasileiro para promover a vinda de estrangeiros arregimentados pelas Companhias de Navegação, sendo a principal delas a Cia. Navegazione Generale Italiana.

A filha Amália, de quase 11 anos de idade, na hora do embarque, não sabemos por qual razão, acabou ficando na Itália com os avós maternos. Ângelo decidiu partir com os outros filhos: Ernesto (Pedro), Ermínio (Armindo), Antonio e Eugênio Sílvio, todos eles com uma vontade enorme de vencer na vida. Era janeiro do ano de 1893 quando foi de carroção para a cidade de Belluno, onde tomou o trem na estação de Feltre, com destino à estação ferroviária da cidade de Gênova. Ficariam para trás os Alpes cobertos de neve, lembrança jamais apagada de sua mente. Não olhava para trás para não demonstrar a tristeza da despedida.
estacao-feltre

"Da antiga estação ferroviária de Gênova ao cais do porto, a distância média era de três quilômetros. Cada um ia carregando sua tralha, la leggiera, auxiliado por parentes ou amigos. O cais repleto, carregadores praguejantes, policiais, curiosos, marinheiros. O embarque é demorado. As passagens são coletivas, em bloco de famílias, de províncias. Conferência de passaportes. Cuidado com a bagagem de porão. Uma trapalhada enervante. Afinal o barco emite um ronco soturno. Bulcões de fumo encobrem o céu. É sinal de embarque. Os viajantes se precipitam para a ponte de acesso. Da amurada do navio os lenços sacodem nervosos as despedidas finais. Addio! Addio! Addio!

Os corações se fecham numa saudade funda. Os marinheiros giram os cabrestantes. As âncoras emergem lentamente, o navio se afasta, a hélice revolve as águas em franjas de espuma branca”[3].

portogenova

No dia 10 de janeiro de 1893, no porto de Gênova, embarcou no vapor "Rosário"[4] com destino ao porto de Santos (Brasil).

Foi uma viagem sacrificada, dada a fragilidade e a falta de conforto do vapor. O filho Ernesto (Pedro) procurou serviço na cozinha, e como ajudante de cozinheiro passava bem em relação à alimentação. A comida era servida numa espécie de gamela, da qual todos se serviam, bebendo vinho tinto, ainda de vinícola italiana. Ermínio (Armindo) enjoava muito com o balanço do navio, o que obrigava Ângelo a comprar água mineral, o que fazia com a venda de alguns objetos pessoais trazidos da Itália. Ângelo, às vezes, ia para o convés e ficava horas pensando em como seria sua vida em uma terra totalmente desconhecida. Sua mente era um torvelinho de pensamentos e devaneios que ajudava a vencer a saudade que já se apossava dele, mas aceitaria com resignação o que o destino lhe reservasse. O comandante de Rosário havia cientificado os passageiros de que, se não houvesse problemas durante a viagem, levariam uns 30 dias para atingir o porto de Santos no Estado de São Paulo, inaugurado em 2 de fevereiro de 1892, portanto um ano antes da chegada de Ângelo Giuseppe e seus filhos ao Brasil. 

Desembarcando em Santos no dia 2 de fevereiro de 1893, Ângelo Giuseppe Bellato e seus filhos foram de trem até São Paulo, após subir toda Serra do Mar, cadeia de montanhas que, iniciando à beira do mar, chegava até o planalto paulista a uma altitude de 800 metros. O trem os levou diretamente à Hospedaria de Imigrantes, onde se alojaram e foram registrados no Livro de Registros com o número 37/73. 

A Hospedaria de Imigrantes, inaugurada em 1888, no bairro do Brás, cumpriu um papel fundamental no contexto da política imigratória para o Estado de São Paulo. Nela o imigrante encontrava seu primeiro endereço no Brasil, antes de seguir para as fazendas de café do interior ou rumo a outros estados.

O imigrante tinha direito de permanecer até seis dias na Hospedaria. Perderia esse direito se recusasse a colocação oferecida pelos agentes oficiais. Foi o que aconteceu com Ângelo Giuseppe, ao constatar que o emprego seria praticamente na base da escravidão. Tal fato o deixou indignado, pois havia deixado a Itália para ser um homem livre e independente. E tinha razão o já sofrido italiano. A ilustre escritora Zuleika M.F. Alvim, em seu livro editado em 1986, sob o título "Brava Gente!", comenta sobre o ambiente hostil que os italianos enfrentavam quando vieram para o Brasil, a ponto de quarenta por cento daqueles que imigraram para o Brasil, entre 1870 e 1920, terem voltado para o seu país ou fugido para a Argentina. Diz que os italianos que foram para as fazendas de São Paulo trabalhavam de sol a sol, eram proibidos de sair de casa e de se reunir. Para eles, uma consulta médica custava tanto quanto um hectare de terra. As mulheres sofriam agressões sexuais sem que a polícia brasileira ou os diplomatas italianos tomassem providências. Não podiam recorrer à religião, como faziam na Itália, pois os padres eram raros e levavam meses para visitar as fazendas.

Um fato correlato ajudou-o a tomar uma decisão. Ocorreu que um calabrês havia, segundo informações, rasgado uma bandeira brasileira e a polícia paulista, a cavalo, de espada em punho, agredia tudo e a todos indistintamente, mandando que os italianos voltassem para a Itália, aos gritos e com palavras de baixo calão.

Ângelo "il nonno" dizia para os filhos que, se ficassem naquela cidade de São Paulo, acabariam todos na prisão.

Da Hospedaria, saíram pela estrada de ferro São Paulo Railway até Jundiaí, onde fizeram baldeação para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro até Campinas, e, de lá, nova baldeação para a Estrada de Ferro Mogiana. Seguiram pela Mogiana passando pelas estações de Jaguariúna, Mogi Mirim, Mogi Guaçú, Aguaí e São João da Boa Vista, no Estado de São Paulo, atingindo, finalmente, a cidade de Poços de Caldas, no Estado de Minas Gerais. Lá, Ângelo trabalhou por uns tempos como pedreiro, na construção de um templo católico. À tarde, onde existe a famosa "Fonte dos Macacos", Ângelo e seus filhos se lavavam na água morna e sulfurosa que descia por uma velha telha colonial. Quando seu filho Sílvio quis ajudá-lo como servente, Ângelo disse-lhe que seu “bambino” não iria trabalhar tão pequeno, e sua função ficava restrita a picar fumo e encher o cachimbo do pai.

De Poços de Caldas, Ângelo Giuseppe e seus filhos transpuseram a serra de São Domingos, atingindo a cidade de Campestre, por volta de outubro de 1893. Ernesto Pedro, aos 18 anos, casou-se, em 27 de janeiro de 1894, com Mariana Izaura da Silva, de 21 anos, filha de Rita Maria da Piedade, na presença do Juiz de Paz e Casamentos, sr. Manoel Ramos Nogueira. 

Poucos meses depois do casamento de Pedro, foram para a cidade de Santo Antônio do Machado, hoje Machado, onde viveram cerca de dois anos.

Lá, na tarde ensolarada de 18 de agosto de 1894, Ângelo casou-se em segundas núpcias com Maria Constância Marques, filha de João Pinto da Costa e Mariana Candida de Lima. Oficiou a cerimônia o Padre José de Souza Ribeiro, sendo testemunhas Francisco Theodoro de Moraes e Avelino de Souza Dias. Pedro e Mariana tiveram seu primogênito José, que foi batizado naquela paróquia tendo como padrinho seu tio Antônio Bellato. 

Em fins da década de 1890, Santo Antônio do Machado era polo de destino dos imigrantes italianos que vinham para o Estado de Minas Gerais trabalhar nos cafezais. Assim, Ângelo Giuseppe ficou conhecendo a família de Alfonso Baldin, recém-chegada à cidade, e ficaram amigos. Através de boiadeiros que faziam viagens frequentes entre Santo Antônio do Machado e a cidade de Três Corações do Rio Verde, onde havia estação de estrada de ferro, ficaram sabendo da existência da vila de Ponte Alta, que era terra de gente ordeira e trabalhadora e estava com grandes possibilidades de progresso. Atiçados pelo espírito de aventureiros e com o desejo de terem uma vida melhor – desejo que os movera a sair da longínqua Itália –, resolveram mudar para aquela localidade.

Assim, no início do ano de 1896, Ângelo Giuseppe e os filhos Armindo e Antonio seguiram para a vila de Ponte Alta, hoje Monsenhor Paulo, deixando em Santo Antônio do Machado os filhos Sílvio e Pedro, este com sua esposa Mariana e o primogênito recém-nascido José.

Partiram de carroção de Santo Antônio do Machado passando por Pouca Massa, hoje Guaipava, e ali cruzaram em balsa o rio Sapucaí, chegando ao entardecer ao povoado de Cubatão, onde pernoitaram. Na manhã seguinte, continuaram a viagem, atingindo o povoado de São Domingos, e, ao início da noite, chegaram ao destino: o povoado de Ponte Alta da Campanha.

Em Ponte Alta, Armindo casou-se com Maria Baldim, filha de Alfonso Baldim e Anna Tronchin. O casamento foi realizado em 20 de fevereiro de 1897 pelo Padre Paulo Emílio Moinhos de Vilhena, na igrejinha de Taipa da Vila, tendo como testemunhas os senhores Antônio Salotti e Jorge Nicolau.

O outro filho, Antonio, casou-se com Emiliana Orcinda da Conceição, em primeiro de setembro de 1904, na igreja de São Sebastião, na cidade de Cambuquira. A cerimônia foi realizada pelo Padre Paulo Emílio Moinhos de Vilhena, sendo testemunhas os senhores João de Souza Matos e João de Brito Pimenta. Antonio trabalhara em Campanha, na padaria de Luiz Pereira Serrano. Por muitas noites, ia, com o filho do patrão,dançar em Cambuquira, dai ter conhecido Emiliana, filha do gerente do Parque das Águas, que veio a ser sua esposa.

Em 1905, foram para a Cidade do México a chamado do irmão mais velho, Attílio, que possuía um restaurante naquela capital e estava precisando de ajuda. Era um dos melhores, senão o melhor, da cidade do México, frequentado por artistas, políticos e turistas:"Gambrinus" GRAN RESTAURANT Y CANTINA- na esquina de San Francisco y Motolinía, na capital asteca.

 

No México, Antonio e Emiliana foram pais de um belo garoto, Angel. Enviaram uma fotografia do garoto montado num burrico e usando um vasto "sombrero". Mas Antonio, por ocasião da Revolução Mexicana, escreveu que muitos amigos seus caíram varados por balas, mortos em plena rua. Tempos depois não deu mais notícias, o que levou seus parentes a acreditarem que ele havia falecido.[5]

Por volta de 1897, Pedro e sua família retornaram para a cidade de Campestre, e junto seguiu, Sílvio, que se casou com Altina Fernandes, em 8 de setembro de 1906, na igreja daquela cidade. Possivelmente no ano de 1908, Sílvio e Altina vieram para Ponte Alta.
Por volta de 1915, Pedro, Mariana e filhos: José, Angelo, Aurora, Attílio, Rita e Pedro, que estavam em Campestre, vieram para a vila de Ponte Alta, onde nasceu o filho Carlos, que faleceu em 5 de novembro de 1916, com 11 meses de idade, vitimado por meningite.

O "nonno" continuou trabalhando como pedreiro e residiu até falecer, em sua casa, situada na chamada "rua de Baixo", hoje rua Lourenço Pierrotti, onde seu filho do segundo casamento, Zequinha, morava também. Em certa ocasião, pediu a esse filho que construísse uma capela no terreno da casa, em homenagem a Santo Antônio de Pádua (Padova), o que nunca foi concretizado.

Ângelo Giuseppe foi uma pessoa humilde, mas decidida, honesta, muito trabalhadora, de forte personalidade, excelente pai e que tentou substituir, dentro do possível, os carinhos da falecida mulher, junto aos seus filhos. Foi acometido por uma melancolia profunda, causada pelo afastamento de sua terra natal, e pelo anseio extremado de retornar a ela. Sempre, ao cair da tarde, pegava sua concertina, um instrumento semelhante ao acordeão, e executava canções italianas.

Ficou doente no ano de 1919. Pediu para se confessar com o Padre Paulo Emílio Moinhos de Vilhena – vigário da paróquia de Campanha que prestava assistência espiritual aos moradores do distrito de Ponte Alta – que, em ato de extrema bondade, foi de Campanha a Ponte Alta a cavalo, enviado por Sílvio. Quando lá chegou, a noite estava bastante fria. Após tomar um cálice de vinho do Porto, foi para o quarto confessar Ângelo Giuseppe. Terminada a confissão, disse para os presentes: "Estou feliz, pois hoje atendi em confissão um de meus melhores amigos".

Sentindo que se aproximava o fim, Ângelo pediu que chamassem sua nora Maria Baldim, que rezou com ele o Pai Nosso no dialeto veneto:

“Padre Nostro Che te si in ciel Santificã sia el to nome

Vegna a noantri el to regno

Sia fata la to volontã

Cossi in cielo come in tera.

El pan nostro di ogni dï dane ncó.

Perdoname le nostre ofese

Como noantri perdonemo

A chi ne gã ofendesto

Non assarme cascar in tentassion

Ma libérame de ogni mal

Cossi sia.”

Ângelo Giuseppe Bellato, grande devoto de Santo Antônio de Pádua, faleceu no dia do santo, 12 de junho de 1919, uma madrugada fria de inverno. Morreu aos 68 anos de idade, tendo vivido 26 anos no Brasil. Morreu vítima de "encômodo do coração e sem assistência médica".

 "Assento nr. 307

 Aos dose dias do mes de Junho do anno de mil novecentos e dezenove, neste districto de Ponte Alta, termo e Comarca da Cidade da Campanha Estado de Minas Geraes, em meu cartorio compareceu Armindo Bellato comerciante residente neste districto e perante as testemunhas Nello Totti e Luis Pellegrinetti residentes neste districto declarou que no dia anterior, digo, declarou que nesse mesmo dia as quatro horas, no próprio domicilio, falleceu proveniente de encommodo do Coração e sem assitência médica seu pae Angelo Bellato de sessenta e oito annos de idade, filho ligitimo de Paschoal Bellato e Domenica Bellato e esposo de Maria Constancia Bellato. Foi expedida a guia de enterramento para o cemitério da Sede do districto, do que para constar lavrei este termo que commigo assignam o declarante e as testemunhas. Eu, Laurindo Penna da Camara, official do Registro Civil, o escrevi e assigno.

Laurindo Penna da Camara

Armindo Bellato

Nello Totti

Luis Pellegrinetti”

Seu sepultamento, no cemitério velho de Ponte Alta, onde hoje está a Escola Estadual Professor João Mestre, foi acompanhado pela Banda de Música, da qual era maestro o conhecido músico apelidado por "Zé Negrino", e um enorme cortejo.
Foi um enterro triste e bonito, em razão das homenagens a ele tributadas.

Autores: Dr. José Augusto Bellato e Francisco de Paula Belato

[1] Dados do livro "Invito alla Stória di Mogliano" vol. 5 p. 38 a 41v do ilustre Prof. Dr. Giuseppe Venturini.

(2)  
Carbonária foi uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na ItáliaFrançaPortugalEspanhaBrasil e Uruguai nos séculos XIX e XX. Fundada na Itália por volta de 1810, a sua ideologia assentava-se em valores patrióticos e liberais, além de se distinguir por um marcado anticlericalismo. Participou nas revoluções de 18201830-1831 e 1848. Embora não tendo unidade política, já que reunia monarquistas e republicanos, nem linha de ação definida, os carbonários (do italianocarbonaro, "carvoeiro") atuavam em toda a Itália, tendo importante ação durante a Unificação Italiana e nas revoluções que a precederam. Reuniam-se, secretamente nas cabanas dos carvoeiros, derivando daí seu nome. No Norte da Itália, outras organizações eram associadas a Carbonária como a Adelfia e Filadélfia


[3] Luiz Serafim Derenzi. “Os italianos no Estado do Espírito Santo”.

[4]  *O Vapor Rosário pesava 1.957 toneladas, e media 85,95 ms por 10,73 ms. Foi construído por Wigham Richardson & Co em Walker-onTyne, e em 17/09/1887 foi lançado ao mar por Fratelli Lavarello. Em 01/12 do mesmo ano iniciou a rota MV Gênova-América do Sul. 

Em 1891 passou à La Veloce e continuou na rota Gênova-América do Sul. Em 1898 foi vendido à empresa francesa Cie Mixte e teve 
seu nome trocado para DJURJURA. Em 23/12/1915 afundou depois de uma colisão.

[5] Em 2003, com a colocação do site da família Bellato na internet, soube-se, através da bisneta de Antonio, Lilliana Bellato Gil, socióloga da Universidade do México, que seu bisavô deixara grande descendência naquele país